O Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, o famoso TDAH, está em alta e isso significa que pode ser facilmente confundido com tédio ou questões próprias do ciclo da vida.
Então, como diferenciar?
O diagnóstico deve ser feito por psicólogo ou médico. Caso se identifique ou identifique alguém próximo, é necessário procurar um profissional para a correta avaliação.
O TDAH faz parte dos transtornos do neurodesenvolvimento, ou seja, seus sintomas começam a se manifestar antes dos 12 anos de idade e interferem no funcionamento social, acadêmico e profissional (não só naquela aula que você não gostava tanto).
As características variam de acordo com o tipo, sendo necessário 6 ou mais itens de cada.
– Desatenção:
- erros por descuido, desatenção;
- dificuldade em manter a atenção;
- dificuldade de escutar mesmo sem distrações óbvias – “cabeça longe”;
- dificuldade em terminar trabalhos e seguir instruções;
- dificuldade em gerenciar tarefas e prazos;
- evitar, relutar fazer tarefas que exijam esforço mental prolongado;
- perder itens frequentemente;
- distrair facilmente com estímulos externos;
- esquecimento de atividades cotidianas.
– Hiperatividade e Impulsividade:
- remexer, batucar as mãos, se contorcer;
- não conseguir ficar muito tempo sentado;
- se movimentar muito em situações inadequadas – sensação de inquietude;
- dificuldade de se envolver em atividades calmas;
- dificuldade em parar;
- falar demais;
- não aguardar o momento de falar;
- dificuldade de esperar a vez;
- interromper com frequência.
– Combinado:
- 6 ou mais características de Desatenção;
- 6 ou mais características de Hiperatividade e Impulsividade.
Além desses pontos, é comum ter baixa tolerância à frustração, irritabilidade e labilidade emocional (mudança excessiva de humor, sentimentos e emoções).
É possível ter o hiperfoco, quando um assunto interessa e prende bastante a atenção, levando a apresentar um comportamento bem diferente do costumeiro.
Costuma ser mais facilmente identificado quando é do tipo Hiperatividade/Impulsividade ou misto, visto que gera um maior incômodo nos ambientes, enquanto a desatenção é mais facilmente considerada como uma característica normal, uma pessoa mais “cabeça de vento”, distraída.
Mais comum em homens do que em mulheres e há maior probabilidade das mulheres terem características de desatenção.
Evolução
Os sintomas tem início na infância, geralmente ficando mais evidentes no âmbito escolar.
Na adolescência, há um aumento da dificuldade com autocontrole, planejamento, regulação do afeto e distração.
Na vida adulta, há uma redução dos sintomas tanto pelo amadurecimento cerebral quanto pelo autoconhecimento e uso de recursos comportamentais para minimizar algumas características.
Questões biológicas
Apesar de multifatorial, a questão biológica possui uma grande influência no TDAH.
Isso por que há uma menor quantidade de dopamina no cérebro, menor atividade cerebral e o córtex pré-frontal amadurece de forma mais lenta do que da população geral. Exames de imagem também mostraram que, quando iniciada uma atividade, o cérebro não diminui o modo “sem pensar em nada”, o que gera um ruído interno, dificultando a concentração.
A dopamina é um neurotransmissor que carrega informações e tem relação com:
- planejamento e recompensa;
- motivação;
- controle motor de movimento voluntário;
- funções executivas (autocontrole).
É o que faz com que aja a ação em busca do prazer, em busca de algo.
Quando se faz algo esperando uma recompensa e ela não ocorre, há uma diminuição da atividade dopaminérgica.
O autocontrole é a reação sobre si mesmo que o levaria a fazer algo diferente do primeiro impulso em busca de algo que deseje mais.
É composto por:
- memória de trabalho não-verbal (retenção de informações através dos sentidos);
- memória de trabalho verbal (falar consigo mesmo);
- controle das emoções (buscar emoções alternativas);
- planejamento e resolução de problemas;
- inibição (de comportamentos em situações específicas).
Tratamento
O melhor tratamento é realizado através de ação medicamentosa e ajustes comportamentais.
– Comportamental
Conjunto de atividades que visam auxiliar nas queixas trazidas por cada cliente, devendo ser personalizado. De modo geral, como há uma dificuldade com planejamento de tempo, atividade e consequências, envolve trabalhar mecanismos para se lembrar e poder fazer escolhas mais conscientes.
- pensar no passado antes de decidir o futuro;
- usar gestos, cheiros e memórias para auxiliar na tomada de decisões;
- falar sobre a situação de forma pragmática (se escrever, melhor ainda), com a descrição, lista de possibilidades com seus prós e contras, escolher uma opção, testá-la e avaliar o resultado;
- lista diária de atividades com 2 a 5 itens principais;
- fazer o que precisa ser feito, mesmo sem vontade, por pelo menos 10 minutos.
– Medicação
A medicação pode ser do tipo estimulante ou não estimulante.
As estimulantes se dividem em de duração breve, tipo a Ritalina, que tem efeito entre 3 e 5 horas e diminui a recepção de dopamina na sinapse, ou de liberação prolongada, como o Adderall, uma anfetamina com venda não autorizada no Brasil, que tem efeito entre 7 e 9 horas e aumenta a dopamina na fenda sináptica.
Os não estimulantes são antidepressivos, como a Bupropriona (Wellbutrin), que agem bloqueando a recaptação de dopamina, permitindo uma maior quantidade na fenda sináptica. Seus efeitos levam de 2 ou 3 dias para começar a aparecer e possui menos efeitos colaterais que as estimulantes.
As medicações devem ser feitas com acompanhamento médico e podem levar até 6 meses de ajustes finos para cada caso e seu uso pode vir a ser pontual.
Impactos gerais
O TDAH pode trazer alguns obstáculos a mais pro cotidiano mas com um tratamento adequado é possível ter uma vida tranquila e de sucesso.
Algumas pessoas de sucesso não John Lennon, Robin Williams, Jim Carrey, Sabrina Sato e Jennifer Lawrence.
Aceitar e procurar ajuda não é um sinal de que falhou, assim como usar bengalas quando se está com uma perna quebrada. Se conhecer, entender o que funciona melhor para você ou não, é sempre importante.
A vida já não é naturalmente fácil, não é necessário dificultá-la ainda não.
Cuide-se!
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Referências
American Psychiatric Association. (2014). DSM-5: Manual diagnóstico e estatístico de transtornos mentais. Artmed Editora.
Barkley, R. A., & Benton, C. M. (2011). Vencendo o transtorno de déficit de atenção/hiperatividade: adulto. Penso Editora.
Gazzaniga, M., Heatherton, T., & Halpern, D. (2005). Ciência psicológica. Artmed Editora.
Papalia, D. E., Olds, S. W., & Feldman, R. D. (2000). Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artmed.
Rohde, L. A., Buitelaar, J. K., Gerlach, M., & Faraone, S. V. (2019). Guia para Compreensão e Manejo do TDAH da World Federation of ADHD. Artmed Editora.
Whitbourne, S. K., & Halgin, R. P. (2015). Psicopatologia. AMGH Editora.
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